Filme - A Vida Invisível ("Invisible Life")


Gerando muita curiosidade, "A Vida Invisível" do diretor Karim Aïnouz ("Praia do Futuro" e "Madame Satã") foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o país na corrida pelo Oscar em 2020 da categoria melhor filme internacional, que anteriormente era chamada de melhor filme estrangeiro. Com distribuição pela Sony Pictures, o lançamento se dará dia 21 de Novembro de 2019. Com grande elenco e uma importância ao narrar a vida das mulheres do século XX, fica claro o motivo da escolha para representar o Brasil na 92ª edição da premiação, desbancando até mesmo o querido "Bacurau".

O longa se passa no Rio de Janeiro, final da década de 1940. Eurídice (Carol Duarte) é uma jovem talentosa e apaixonada pela música, ainda que seja bastante introvertida. Guida (Julia Stockler) é sua irmã mais velha, e o oposto de seu temperamento em relação ao convívio social. Ambas vivem em um rígido regime patriarcal, o que faz com que trilhem caminhos distintos: Guida decide fugir de casa com o namorado, enquanto Eurídice se esforça para se tornar uma musicista, ao mesmo tempo em que precisa lidar com as responsabilidades da vida adulta e um casamento sem amor com Antenor (Gregório Duvivier).


Logo em seu primeiro ato estamos preocupados com nossas protagonistas, dando uma ideia (ainda que mínima) do que sentem as mulheres que eram pressionadas pelos pais, marido, sistema político e em todas as camadas que colocam suas ambições e pretensões em primeiro lugar. Com cenas pesadas, nudez e situações completamente emocionais, é tudo tão cru que o prazer de estar no cinema se mistura com o desconforto de presenciar tudo aquilo, que vai além da dor do parto. Tudo isso com uma fotografia digna de uma estatueta, e uma apresentação de época que dará nos brasileiros uma ponta de nostalgia a se considerar.

Considerando o drama, a trilha sonora colabora com um tom sombrio até para os momentos que soam mais leves. O elenco entrega toda sua brasilidade, que deveria predominar nessa produção teuto-brasileira. A participação especial de Fernanda Montenegro é uma forma mais do que justa de agradecer ao seu trabalho e comemoração dos seus 90 anos, sendo 70 de sua carreira que já lhe levou a uma indicação como melhor atriz por "Central do Brasil" (1999, 20 anos se passaram desde então). Carol e Julia são opostos complementares, e não poderia faltar a sororidade que tanto falamos nos dias atuais. Afinal, o século XX não está tão distante do nosso, tendo temas atuais e que foram vividos.


Sendo uma adaptação do livro de Martha Batalha, intitulado "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", não faltou dedicação da produção na pesquisa para o roteiro, pois o diretor entrevistou várias mulheres entre 70 e 90 anos, perguntando sobre suas primeiras experiências sexuais, o casamento e suas vidas privadas. A realidade ainda choca, e a mensagem do filme pode ser vista como "seja mais forte do que sua a dor".Curiosamente esse é o segundo filme em que o diretor Karim e o produtor Rodrigo Teixeira trabalham juntos. O anterior foi "O Abismo Prateado" (2011). Podemos esperar grandes coisas da união, e  esse esforço não será em vão.

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