Análise - Black Mirror: "Rachel, Jack and Ashley, Too" (S5E03)


Com apenas três episódios nessa quinta temporada, a série "Black Mirror" conseguiu estender a duração dos episódios e focar ainda mais na história, sendo um retorno ao essencial que tornou a série um sucesso. O episódio estrelado por Miley Cyrus, "Rachel, Jack e Ashley, Too" é o terceiro da temporada, servindo para quebrar o clima do primeiro "Smithereens" e do segundo "Striking Vipers". Mesmo com essa função, a história se torna a mais memorável se entendermos o quanto ele busca trazer a realidade das celebridades, tanto as mais novas quanto as mais antigas. A temporada estreou na madrugada do dia 05 de junho de 2019, sendo uma das séries originais da Netflix mais aguardadas do ano.

As jovens atrizes Angourie Rice e Madison Davenport protagonizam a história de Rachel uma adolescente que embora tenha sua irmã e seu pai, se sente solitária desde que perdeu sua mãe. A jovem interpretada por Angourie Rice (que também estará no filme "Homem-Aranha: Longe de Casa") sonha em se conectar com sua estrela pop favorita — cuja charmosa existência não é tão boa quanto parece. A cantora Ashley O (Miley Cyrus) resolve apresentar seu novo produto, a boneca Ashley Too. Como todo bom episódio de "Black Mirror", a tecnologia nos mostrará o quanto podemos fugir da realidade, nem que seja por um clique.


Com pelo menos duas músicas interpretadas por Cyrus, vemos nas canções a dualidade da personagem que se sente presa a um contrato idealizado por sua agente (que também é sua tia). A dificuldade de aceitar a personagem criada para agradar ao público faz com que Ashley O comece a lidar com seus demônios através da música. Do outro lado, Rachel nem faz ideia do que se passa com sua popstar. Em seu aniversário de 15 anos ganhará sua tão sonhada boneca que será uma amiga para todas as horas, afinal, ela "fala o que pensa".

Para os fãs de Cyrus é maravilhoso ver a atriz de 26 anos de volta a atuação, já que seu último papel foi na série de Woody Allen, "Crises em Seis Cenas" de 2016. Porém, o retorno faz mais alusão a sua fase inicial, a série da popstar com vida dupla. Na série do Disney Channel de 2006 (sim, 13 anos se passaram) "Hannah Montana" vivia por sua própria conta e risco a vida de uma artista durante os shows e aparições públicas, mas durante os momentos que desejava (inclusive na escola) mais privacidade, tinha como ser ela mesma... sem a pressão de ser famosa. Parece familiar?


As consequências do episódio mostram com exagero o que a ambição pode fazer de uma artista promissora, se aproveitando de sonhos de jovens para conquistar uma indústria gananciosa e cada vez mais possessiva. Vemos em certas cenas até o que poderia significar a produção de um disco póstumo, como o de Michael Jackson (morte ocorrida há 10 anos) por exemplo, pois muitos duvidaram que a voz de todas as canções póstumas eram mesmo dele. Outra visão traria a cantora Britney Spears e seu surto em 2007, e após anos sob controle do pai, só atualmente levou o caso para os juizados. Todos os casos de artistas que começaram cedo demais, e que até hoje lidam com o peso. 

Felizmente Miley é uma prova viva de que se você sempre poderá escapar dessa loucura, e sua personagem parece a interpretação mais verdadeira da também atriz, que não esconde palavras de baixo calão para mostrar o quanto estava sendo controlada. Quem conhece mais a fundo a história de Miley, lembrará da Música "Robot", faixa presente em seu último disco lançado pela Hollywood Records (gravadora associada a Walt Disney Records), onde ela se liberta e logo se rebelaria em uma fase conhecida por todos: "Bangerz".


SPOILERS:

Perto dos outros episódios, esse soara um pouco mais simples, mas sua mensagem com certeza alcançará o público que consome desenfreadamente o que seu artista favorito "vende". Podemos perceber na personagem Rachel uma falta de bom senso nos momentos em que perante seu ídolo atordoado após acordar de um coma, e a garota só pensa em dizer o quanto é sua fã nº 1. Bizarro!

Lidar com familiares controlando sua liberdade artística nos lembra Michael na infância, que apanhava do pai e tinha que seguir em turnê com os irmãos quando poderia ser uma criança comum. A tia da Ashley O representa todo o mal que a indústria sabe mascarar, e num dos planos da empresária, ela cria a famigerada era dos hologramas: coisa que já vimos em performances de Michael após sua morte, na turnê da Miley como Hannah para que a artista pudesse aparecer ao lado da estrela da Disney... e por fim, para quem não sabe de tudo isso, pode até lembrar da cantora com traços de mangá Hatsune Miku, que lota shows sem nem ao menos existir.

A meta de uma cantora que não se cansa cai por terra, mas lembramos do quanto foi difícil pra Cyrus cumprir uma meta de 70 shows de duas horas em pouco menos de 4 meses, sendo quase diário até a conclusão da turnê "Best of both worlds". Ou seja, parte dessa dificuldade de sua personagem esteve em sua vida.

ISSO É TÃO BLACK MIRROR!

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