Análise - "Ancient Dreams In a Modern Land", Álbum de MARINA


Para quem sentia falta das cores, ou talvez da estética vintage, Marina Diamandis trouxe ambas para "Ancient Dreams In a Modern Land", um pop mais autêntico que sempre fez parte de sua carreira. Ela que antes atendia ao nome artístico Marina and the Diamonds, agora está em seu 5º álbum de estúdio, e vemos o oposto do anterior "LOVE + FEAR", vivendo numa fase de amor próprio, trazendo ainda mais feminismo em suas faixas e até a preocupação com o ecossistema, sem falar as críticas contundentes a indústria musical e cinematográfica, sendo claramente adepta ao movimento #METOO contra abusos sexuais. Ainda que tenha tido um vazamento das faixas inéditas, o lançamento oficial é hoje, 11 de Junho de 2021 nas plataformas de streaming, e para colecionadores começará a distribuição das mídias físicas: CD, Vinil, Cassete.

ANTECEDENTES

Após os resultados do álbum anterior não terem um grande impacto, era previsível o esforço de voltar ao que faz MARINA um diferencial na música atual. "LOVE + FEAR" representou o lado mais pessoal e uma libertação de expectativas após o sucesso da cantora galesa se tornar gradativo a cada álbum lançado. O que antes MARINA era relutante a parcerias, agora ela usa de uma forma inteligente. Se olharmos que "Baby" com Luis Fonsi e Clean Bandit, que entrou para seu álbum e claramente renderia streamings para a obra como um todo, foi uma estratégia comercial após anos sem lançar músicas inéditas.

Com o fim da turnê do 4º álbum, MARINA estava ciente do que viria para seu próximo trabalho. Uma conexão do debut "The Family Jewels" com o mais aclamado "FROOT" trouxe nessa nova era um álbum conceitual que enxerga o sucesso como algo passageiro, tendo em vista que até no aplicativo TikTok a cantora tem fama por músicas dos primeiros projetos, e de faixas que nem sequer foram singles: "Are You Satisfied?" e "Bubblegun Bitch", a primeira do debut já mencionado e que fala realmente sobre ela, e a segunda vindo de uma persona do álbum "Electra Heart", álbum que vemos MARINA em uma luta constante para se desvincular. Ao mesmo tempo, o recente fim do relacionamento e seus momentos de autodescoberta, como o cabelo grisalho que vem surgindo desde seus 30 anos, agora não serão um problema para nossa querida fada britânica.


SONHOS ANTIGOS EM UMA TERRA MODERNA


Quando o mundo se isola para uma pandemia, é a hora perfeita para se manter criativa, sã e viver uma experiência nostálgica. Com 10 faixas o álbum é curto, aderindo a ideia de que um disco com menor quantidade de faixas e de duração - 36 minutos, praticamente o que era um EP -será ouvido no repeat se agradar seus ouvintes. Uma forma eficiente, pois a sonoridade é incrível para dançar, refletir e até assistir, já que os vídeos trouxeram alguns dos seus melhores trabalhos visuais, e com certeza sem gastar o que outros artistas investem. 

"Man's World" foi a ponte perfeita para guiar os fãs da era passada para essa mais nova, e ainda trouxe um remix com parcerias de Pabllo Vittar e Empress Of que produziu algo mais dançante e claramente para o público LGBTQ+ sentir que essa era é ainda mais presente na militância. A faixa remete a ancestralidade, falando direto com os preconceituosos, misóginos que deveriam ter ficado há séculos atrás, onde ainda queimavam mulheres por serem inteligentes e questionarem.

O Segundo single "Purge The Poison" é o sonho dos fãs se tornando realidade, dançante e sombria, MARINA trouxe referências diretas dos tempos modernos, afinal, Britney Spears raspou a cabeça em 2007 para ser deixada em paz, talvez não ser reconhecida, e se tornou ainda pior o assédio dos paparazzis. 10 anos depois o produtor e estuprador Harvey Weinstein foi preso por inúmeros crimes sexuais, deixando ainda mais claro que fazíamos vista grossa, pois agora falamos sobre temas como depressão e abusos na indústria. A versão remix conta com a parceria do grupo russo Pussy Riot, sendo ainda mais pesada sonoramente.

A faixa-título "Ancient Dreams In a Modern Land" foi a terceira a ser divulgada, com um visual que podemos considerar como clipe, pois é hipnotizante. Assim como a faixa "FROOT" temos a sonoridade que nos leva aos fliperamas, só que agora com sons mais mecânicos e uma comunicação para quem se sente obrigado a fazer o que seu coração não necessita, seja para agradar alguém ou para não ser taxado através da sanção social. Dançando como marionetes, é impossível não se deixar levar pela voz da interprete.

Antes do lançamento do disco completo, Marina liberou o vídeo de "Venus Fly Trap", um dos melhores vídeos da sua carreira, pois fez referência a suas eras anteriores indiretamente e pegou principalmente as produções cinematográficas que as mulheres são inseridas no passar das décadas, sendo sexualizadas pelos monstros da indústria. Sentimos saudade até dos "motherfucker" ditos pela cantora, que aqui assume o controle do roteiro de sua carreira (e vida), não aceitando as migalhas da indústria de Hollywood.

Ironicamente, quem acompanhou a era desde o começo teve até agora as quatro primeiras faixas, ainda que em ordem diversa, e assim como "LOVE + FEAR", soubemos com antecedência como começaria, mas o final ficou para depois. Dentre as faixas inéditas, "Highly Emotional People" se destaca sendo doce e emotiva para quem achou que só seria um álbum agressivo, e nos cativa a ideia dela dizer "eu nunca vi você chorar". Antes os fãs conheciam as prévias dessa faixa como "Cosmos".

"New America" chega sendo a mais popular, ainda que esquecível sonoramente, e conseguiu um clima diferente para o álbum que comunica com energia até as maiores atrocidades. Aqui a faixa tem letras cirúrgicas, mas que talvez funcionem para quem pretende ouvir apenas a faixa. MARINA revela a América como uma pessoa corrupta, que finge estar por cima por mérito, e que agora pode pagar por seus pecados com o mínimo de dignidade que lhe resta. A sensação é que outros artistas comunicam isso com algo mais agradável sonoramente, inclusive a própria MARINA.

"Pandora's Box" já vinha como favorita dos fãs antes mesmo de existir, já que o título deu pistas do que se trataria. A faixa inclusive funcionaria no lado "FEAR" do 4º álbum da cantora, que aqui fala com um ex namorado, lembrando que o último namorado da cantora é o Jack Patterson, membro do Clean Bandit. A canção parece mística quando ouvimos só o piano e a voz da cantora. Também parece se encaixar na era "Electra Heart" quando vemos as faixas como "Buy the Stars" ou "Valley of the Dolls".

"I Love You But I Love Me More" é um mantra que todos deviam repetir após terminar um relacionamento. Afinal, essa é uma faixa que pelo título já entrega seu teor, então sonoramente parece um clássico instantâneo. Considero uma versão mais inteligente para a "No More Suckers", que para quem ouvia, era boba perto dessa. Ainda podemos entender como uma versão musical da frase tão repetida na mídia: "Não é não!". Acabou, playboy!

"Flowers" que poderia ser esquecível, chega como outro ponto alto do álbum. Dando sequência ao tema da faixa anterior, é incrível descobrir como você era feliz até mesmo sozinha, isso até trazendo aos tempos de isolamento social, que houveram tantos términos de namoros, casamentos e até temos as irônicas palavras "Se você acabou de me comprar flores, talvez eu tivesse ficado". É o que eu diria, estamos melhores longe um do outro. Marcante!

A última faixa recebe o nome "Goodbye" não atoa, já que nem edição deluxe esse álbum teve (até agora), então concluímos uma caminhada do passado sujo ao futuro incerto, mas otimista de MARINA, que entende que mudar o passado não lhe trará frutos melhores. Melodicamente estamos sempre com as faixas lentas ao concluir um projeto mais coeso desde "FROOT" (2015), sendo a sequência perfeita, ainda que aproveite as ideias e erros de todas as eras anteriores.

CONCLUSÃO

MARINA entendeu bem o que a torna um diferencial, e provavelmente é a era mais confortável de sua carreira, assim como "LOVE+FEAR", mas seguindo um caminho que agrada seu coração. É comum ver que muitos artistas produzem melhores canções quando estão solteiros, e até nisso soa verdadeira a afirmativa de que a dor traz resultados melhores. A dor ensina, e o álbum anterior ensinou como não ser completamente minimalista e esquecer que todos os demais projetos compreendiam uma MARINA mais criativa, dramática e artística. 

Sentir falta de mais faixas é compreensível, já que no mínimo tinham 12, 13 e até 16 faixas longas, e agora com faixas curtas é estranho para os que não se acostumaram com as modificações de como se faz música. MARINA sempre segue e critica as fórmulas, o que a torna um veículo que transita do pop indie do seu início de carreira e o pop mainstream que vez ou outra aceita artistas com diferenciais. Como as bruxas, que tanto ajudaram na concepção dessa era. Wicca ou não, os deslocados estão cada vez menos disfarçados. 

O álbum não é o melhor, mas é um dos melhores desse ano e inclusive na carreira da cantora, que ainda mostrará mais desdobramentos em suas apresentações ao vivo (na TV e numa futura turnê), sem falar nos clipes, que torcemos para que não acabem por agora. Por fim, obrigado ao "and the diamonds" que apresentaram Marina ao pop. 💓

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