Análise - "If I Can't Have Love, I Want Power" de Halsey


"If I Can't Have Love, I Want Power" é o quarto álbum de estúdio de Halsey, lançado hoje, 27 de Agosto de 2021, praticamente um ano após seu anterior "Manic" (2020). Também é um projeto visual, tendo um filme de mesmo nome que chegou aos cinemas em salas limitadas como uma experiência em IMAX. O disco aproveita a fase da maternidade e aborda temas como o amor, nascimento e morte, com toda a força que isso representa.

Ainda que tenha mais associações a polêmicas, Halsey tenta trazer as respostas em suas músicas, onde realmente é seu melhor local de fala. Desde a arte que lembra "Game of Thrones" e uma pintura renascentista onde uma rainha (representação do poder) amamenta sua prole (o amor em seu estado mais puro), tudo com uma das melhores fotografias de seus lançamentos.


Dessa vez as colaborações de peso estão na composição das faixas, por trás das câmeras e de um modo ainda mais conceitual, podendo se dizer que o disco é mais pessoal, sem explorar sua voz ao máximo, lembrando seu debut com "Badlands" (2015). O projeto foi inspirado na gravidez ao lado de Alev Aydin. "É um álbum conceitual sobre as alegrias e horrores da gravidez e do parto. Foi muito importante para mim que a arte da capa transmitisse o sentimento da minha jornada nos últimos meses."

O longa metragem foi dirigido por Colin Tilley, conhecido por seu trabalho em videoclipes, como o viralizado "WAP" da Cardi B com a Megan Thee Stallion. Com 53 minutos, as músicas casam com cada situação, trazendo uma atmosfera sombria para músicas que somente pela sonoridade podem soar leveza e simplicidade. Foi produzido por Trent Reznor, da banda Nine Inch Nails, e Atticus.

Capa alternativa

"The Tradition" funciona como a melhor abertura, inicialmente tranquila, com um refrão forte e marcando a ideia de família, sangue do seu sangue, hierarquia e (obviamente) as tradições. É uma grande amostra da tristeza em fazer parte dessa alegoria.

"Bells in Santa Fe" tem um enorme potencial para single, seja pela letra forte e o pensamento que poderia ser para os tempos de pandemia. Ao mesmo tempo sentimentos de raiva e angústia abalam os sinos "não espere por mim, não espere por mim, não é um final feliz, não é um final feliz".

"Easier than Lying" vemos uma sonoridade mais ativa e com o rock que poderia ser a "Nightmare" descartada do disco "Manic", tendo ainda mais angústias e uma sensação de como podemos ser volúveis em trechos como "meu coração é enorme, mas está vazio".


"Lilith" é mais relaxante, deixando as coisas mais para as palavras e o sentido quase bíblico. Soltando a frase "eu sou a perfeição quando se trata de primeiras impressões", e como uma troca "quanto mais você me dá, mais você tem" fazendo a faixa mais sexy até o momento.

"Girl is a Gun" é mais próxima da música eletrônica, inclusive combinando para futuros remixes. A faixa também lembra muito o álbum "Badlands", sendo direta e bem divertida ao trazer as desilusões amorosas e como é parte do romance esse jogo.

"You asked for this" trouxe algo mais contemporâneo para o disco, sendo bastante explícita. Além do duplo sentido da canção, vemos um rock alternativo e ruidoso sendo desenvolvido com algo mais selvagem e sexual.


"Darling" é o total oposto da anterior, sendo doce e acústica, um country de leve lembrando a faixa "You Should Be Sad" do "Manic", só que mais simples. É o tipo de faixa que funciona para encerrar uma era, caso fosse single, ainda que não de forma comercial.

"1121" trouxe mais do conceito do disco, fazendo uma doce e teatral. Sempre lembrando "mas eu não vou morrer por amor", sendo ao máximo shakespeariana em batidas eletrônicas e sintetizadores na voz, mostrando que ela não se reconhece no meio desses conflitos.

"Honey" é definitivamente um ponto alto, sendo um rock contemporâneo e que lembra seu disco "Hopeless Fountain Kingdom" (2017), e com sua letra grudenta seria ótima para viralizar em plataformas como o TikTok, além de ser uma das mais curtas do álbum.


"Whispers" talvez tenha a letra mais pesada já escrita por Halsey, em partes sussurrando de fato, e sem muitos artifícios ela se torna marcante com trechos como "sabote as coisas que você mais ama, camufle para que você possa alimentar a mentira de que você é composto".

"I am not a woman, I'm a god" é a primeira que ganhou vídeo com trechos do filme, e por sorte é um deleite de empoderamento, suas batidas eletrônicas são sedutoras combinadas com o refrão que lembra a clássica "Bitch" da Meredith Brooks que serviu recentemente para a faixa "I'm a Mess" da cantora Bebe Rexha no quesito da interpolação.


"The Lighthouse" começa com os ruídos dignos de um grunge, e a faixa que houve mais entrega vocal, além das frases contextualizadas que nos remetem ao momento em que nos apaixonamos, acreditando no outro e até mesmo na dor do parto, dando a luz (o farol) "onde as ondas desabam".

"Ya’aburnee" é o termo árabe para "você me enterra", sendo um desejo de morrer antes de alguém que você ama, pois não seria suportável viver sem ela. A faixa final é ainda mais triste ao começar com: "Eu recebo tons de tristeza quando eu penso sobre os momentos que eu nunca passei com você". É realmente um momento de luto, com apenas voz e violão.

Capa oficial

Halsey teve um momento inspirado com sua gestação, e agora com o nascimento de seu primogênito, ocorrido em 19 de Julho de 2021, sem muita atenção da mídia e com respeito a privacidade do companheiro e do menino que recebeu o nome Ender Ridley. Ela também escondeu as colaborações da tracklist, mas, depois, revelou a participação especial de Dave Grohl (Foo Fighters), Lindsey Buckingham (Fleetwood Mac), Kevin Martin (The Bug), Dave Sitek, Pino Palladino, Karriem Riggins e Meat Beat Manifesto, o que justifica a influência do rock, principalmente grunge e alternativo.

A obra fez sua vez e é um dos melhores lançamentos do ano, ainda que a parte visual seja ambiciosa demais para apenas 42 minutos e 52 segundos de música. Poderia ser lançado aos poucos em cada vídeo e se tornar visual, mas a proposta final de ir por um dia para os cinemas foi realmente ousado e caro, visto que a produção não economizou para concretizar a película. Adicionando apenas mais 10 minutos de cenas e diálogos, temos um álbum completamente destinado a arte e a vaidade de seus organizadores, pois é o menos comercial desde seu álbum de estreia. 

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